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Nº 1670 - Ano 36
5.10.2009

Multiartista da palavra

Arnaldo Antunes apresenta performance poética na UFMG como parte do ciclo Sentimentos do Mundo

Foto: www.arnaldoantunes.com.br

Itamar Rigueira Jr.

A UFMG recebe nesta terça-feira, dia 6, uma personalidade que realiza no terreno das artes um trabalho que guarda muitas semelhanças com o ideal da transdisciplinaridade perseguido pela universidade do século 21. Trata-se do multiartista Arnaldo Antunes, convidado do ciclo Sentimentos do Mundo, no qual fará uma performance poética a partir das 11h, no auditório da Reitoria.

Mais conhecido pelo sucesso com a banda Titãs e mais tarde pela parceria com Marisa Monte e Carlinhos Brown (Os Tribalistas), Antunes, que chegou a iniciar estudos de linguística, tem carreira solo de cantor e compositor há mais de 15 anos. Também se aventura nos campos da poesia – ganhou o Prêmio Jabuti em 1993 com o livro As coisas – artes visuais, ensaios e performances como a desta semana.

Sua fonte de inspiração e sua matéria-prima são constituídas, quase sempre, pela palavra. “Arnaldo Antunes é muito influenciado pelo concretismo e explora a arte verbal em contato com outras artes, como as visuais e as sonoras”, analisa a professora Sonia Queiroz, da Faculdade de Letras da UFMG. “Como poucos, ele alia a tradição artística com a experimentação”, acrescenta.

Poesia e música

Sonia Queiroz lembra que Arnaldo Antunes é autor que ultrapassa o livro, recuperando as origens da poesia, muito mais ligada ao canto. “Ele resgata a função do trovador, e ao mesmo tempo representa hoje uma forma de vanguarda, como performer”, ela explica. Nascido num tempo pós-concretista, Antunes encontrou desenvolvimento tecnológico suficiente para realizar plenamente “o poema impresso atravessado pelas artes visuais, compondo imagens com palavras, recortando e colando, simulando grafites, movimentando as letras”, segundo descreve a professora Sonia.

Para a professora Ana Caetano, do ICB, que é poeta e admiradora de Arnaldo Antunes, o artista é representante legítimo da afinidade entre a poesia e a música – autores como Ezra Pound, ela lembra, sustentam que a poesia é mais próxima da música que da literatura. “Arnaldo dialoga com o que há de melhor na arte, com é o caso do concretismo, e vai um pouco além do que fizeram compositores como Gilberto Gil e Caetano Veloso, com a Tropicália. Ele é ao mesmo tempo experimental e pop, faz os jovens cantarem sua tradução de algo sofisticado”, explica Ana, que será responsável por apresentar Arnaldo Antunes ao público do dia 6.

Integrante de grupos de poesia em Belo Horizonte, Ana Caetano afirma que Arnaldo Antunes tem a qualidade de não ser tão sisudo quanto os concretistas nem tão pop quanto artistas contemporâneos. “Ele é um mestre da modernidade tardia, símbolo de um sincretismo muito bem-vindo numa universidade que busca o diálogo com o mundo fora de seus muros”, ela define.